A mídia pública brasileira, incluindo a Agência Brasil, tem um papel crucial a desempenhar na contestação da visão frequentemente homogênea apresentada pelas grandes agências internacionais de notícias. Essa é a opinião de especialistas em comunicação, que defendem que a mídia pública deve oferecer uma perspectiva alternativa, especialmente em um cenário global de crescentes tensões geopolíticas.
Professores e analistas argumentam que as principais agências de notícias do mundo, muitas vezes, refletem os interesses geopolíticos dos países onde estão sediadas. Isso pode levar a coberturas enviesadas de eventos globais, como conflitos internacionais, que são então replicadas pela mídia empresarial brasileira.
André Buonani Pasti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), exemplifica essa tendência com a cobertura do conflito Israel-Palestina e da Guerra da Ucrânia, que, segundo ele, muitas vezes carece de neutralidade. “A gente está falando de interesses geopolíticos vinculados aos Estados a quais essas empresas pertencem”, afirma Pasti.
José Arbex Junior, professor de jornalismo da PUC-SP, complementa que a mídia empresarial brasileira frequentemente utiliza as “lentes” das agências estrangeiras, distorcendo a percepção dos brasileiros sobre o mundo. “Com essas lentes, eu, como brasileiro, estou olhando o mundo de uma forma completamente distorcida porque uso óculos que não servem para mim”, explica.
Em contrapartida, a mídia pública, por não estar diretamente ligada a interesses econômicos e estrangeiros, possui a independência necessária para oferecer uma cobertura mais equilibrada e alinhada com os interesses nacionais. Segundo Arbex, “a mídia pública, exatamente porque ela não está comprometida com nenhuma grande empresa, tem muito mais independência e capacidade para fazer coberturas que não interessam do ponto de vista empresarial, mas que têm um grande interesse do ponto de vista nacional e popular”.
Ivan Bomfim, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ressalta que o jornalismo não é neutro e que a mídia empresarial molda a visão de mundo a partir dos interesses econômicos e políticos que a sustentam. Nesse contexto, a mídia pública pode exercer um papel fundamental na promoção de uma visão brasileira do cenário internacional.
A Agência Brasil, celebrando 35 anos de atuação, tem buscado fortalecer parcerias com agências de notícias de outros países, como a Xinhua, da China, e a TeleSur, da Venezuela, para diversificar suas fontes de informação e oferecer uma perspectiva mais abrangente dos eventos globais.
Além disso, especialistas defendem maior controle social sobre a mídia pública, permitindo que a sociedade participe do debate sobre os rumos da cobertura jornalística. Essa participação, que já existiu por meio do extinto Conselho Curador da EBC, é vista como essencial para garantir que a mídia pública cumpra seu papel de informar a população de forma transparente e imparcial.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br