Aspectos neurobiológicos e comportamentais relacionados ao consumo alimentar

O vício em comida é debatido na neurociência, especialmente em relação a alimentos ultraprocessados. Entenda suas implicações e os fatores envolvidos.
Em uma análise sobre o vício em comida, a discussão tem ganhado destaque na neurociência, principalmente em relação a alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sal, formulados para serem irresistíveis. Embora essa dependência ainda não seja classificada como um transtorno mental, pesquisadores como Jônatas de Oliveira, da USP, têm aprofundado o debate com base em evidências científicas.
Aspectos neurobiológicos e emocionais
Jônatas de Oliveira, doutorando em Transtornos Alimentares pela Faculdade de Medicina da USP, investiga como o desejo intenso por certos alimentos pode se manifestar de maneira semelhante à dependência química. Sua pesquisa revela que o comportamento alimentar compulsivo não é apenas uma “falta de controle”, mas envolve fatores neurobiológicos, emocionais e sociais complexos.
A percepção de vício
Uma pesquisa recente analisou dados de 190 mulheres em um grupo de apoio para transtornos alimentares, utilizando a Yale Food Addiction Scale. Os resultados indicaram uma correlação entre o grau de autocrítica sobre o comportamento alimentar e a identificação com o vício. Quanto mais severo o julgamento pessoal, maior a tendência a se ver como “viciada”. Além disso, a falta de autocompaixão pode levar a essa rotulação, especialmente quando questionários pressupõem perda de controle.
Implicações de dietas restritivas
Outro estudo da USP revelou que o cérebro reage a sensações de falta de comida durante dietas restritivas, fazendo com que alimentos desejados apareçam como imagens vívidas. Dietas como a low carb são interpretadas como mensagens de autocontrole, que entram em conflito com o desejo de consumir alimentos considerados deliciosos e proibidos.
Conclusões e desafios
Em conclusão, há evidências que sustentam a ideia de que o vício em comida compartilha características com outras formas de dependência. Estudos de neuroimagem mostram alterações em regiões cerebrais ligadas ao sistema de recompensa, similar ao que ocorre em dependências de drogas. Contudo, existem limitações que dificultam o reconhecimento do vício em comida como um transtorno independente, devido à complexidade do ambiente humano e à sobreposição de sintomas com outros transtornos alimentares. Assim, a definição do que é “viciante” na comida ainda permanece indefinida, exigindo mais estudos nessa área.




