Análise sobre a lucratividade e os desafios da pecuária brasileira

O cenário da pecuária de corte em 2025 é otimista, mas com alertas sobre o abate de fêmeas.
O cenário para a pecuária de corte brasileira em 2025 é de lucratividade robusta, mas com nuvens carregadas no horizonte. O preço da arroba do boi gordo, após um primeiro semestre volátil, estabilizou-se em patamares historicamente elevados, sustentado pela demanda interna resiliente e pelas exportações recordes.
No entanto, uma prática que se intensificou desde 2024 – o envio massivo de fêmeas para o abate – acende um alerta amarelo no setor, com potencial para provocar uma explosão nos preços da reposição entre 2026 e 2027.
O ano de 2025 começou com os preços da arroba em alta, impulsionados pela entressafra e pela forte demanda internacional, especialmente da China. No primeiro trimestre, os patamares frequentemente superaram a marca psicológica de R$ 320,00/@ em alguns estados do Centro-Oeste, considerado o celeiro do boi no país.
A partir do segundo trimestre, contudo, os preços entraram em um período de correção. A entressafra chegou ao fim, aumentando a oferta de animais terminados, e alguns embargos temporários em importadores menores criaram momentos de volatilidade. O dado mais preocupante, porém, não está no preço atual do boi gordo, mas na composição do rebanho que está indo para o abate. Dados mostram que, desde o segundo semestre de 2024, a participação de fêmeas no abate total supera consistentemente a marca de 40%, chegando a picos de 43% em alguns meses de 2025. Historicamente, um percentual acima de 41% indica que o produtor está descapitalizando seu rebanho, sacrificando o futuro em prol do lucro imediato.
O produtor está sendo racional do ponto de vista financeiro. Com a arroba alta e os custos controlados, o abate de fêmeas, que têm um rendimento menor, se torna viável. O problema é que estamos comendo o ‘capital de giro’ da pecuária. Cada vaca abatida é um bezerro a menos no campo em 2026 e 2027, alerta um analista de commodities.
Se este ritmo de abate de fêmeas se mantiver, vamos ver uma escassez significativa de bezerros e animais para recria a partir do segundo semestre de 2026. A lei da oferta e demanda é implacável: com menos animais para reposição, o preço deles vai explodir. É perfeitamente plausível projetarmos um aumento de 30% a 40% no preço da reposição.
Enquanto a tempestade perfeita se forma para 2026, o curto prazo segue as regras sazonais conhecidas. Novembro é, historicamente, um mês de forte valorização da arroba do boi gordo. Com a chegada das chuvas regulares, o confinamento a pasto se torna mais viável, e muitos produtores seguraram animais esperando por esse momento para engordá-los. Isso contrai a oferta imediata no curto prazo. Além disso, os frigoríficos começam a se abastecer com mais vigor para atender à demanda das festas de fim de ano.
Apesar do otimismo para o final do ano, um fantasma ronda o setor: o risco de embargo. O Brasil é extremamente dependente das exportações, e qualquer problema sanitário ou político-diplomático que leve um grande importador a suspender compras, teria um efeito devastador sobre os preços. Nosso mercado interno é resiliente, mas não absorve sozinho todo o volume que exportamos. Nesse cenário, uma queda de 15% a 20% no preço da arroba em poucas semanas não é improvável. É um risco que o pecuarista precisa ter em mente.
Dezembro tende a ser um mês de preços firmes e volume movimentado. O pico de consumo das festas, somado ao fato de que muitos pecuaristas reduzem as vendas para aproveitar o recesso, cria um ambiente de preços estáveis e favoráveis. O fechamento do ciclo anual se encaminha para um fechamento positivo para o pecuarista, com a alta sazonal de novembro e a demanda firme de dezembro garantindo boa rentabilidade. No entanto, os holofotes devem se voltar para os sinais de alerta. O abate elevado de fêmeas é uma estratégia de curto prazo com consequências potencialmente graves para o médio prazo.



