Estudo revela relação entre clima e origem da agricultura

Descoberta em estalagmite no Curdistão oferece novos dados sobre o surgimento da agricultura

Estudo revela relação entre clima e origem da agricultura
Caverna Hsārok no Curdistão, onde foram feitas as descobertas. Foto: Logotipo Olhar Digital

Pesquisa em estalagmite do Curdistão revela conexão entre mudanças climáticas e o surgimento da agricultura.

Uma nova pesquisa sobre uma estalagmite encontrada em uma caverna no Curdistão iraquiano, datada entre 18 mil e 7,5 mil anos atrás, fornece dados sem precedentes sobre as condições climáticas da região durante a transição da última era glacial. Essa estalagmite é crucial para entender o surgimento da agricultura, pois sua localização estratégica está próxima a vales onde as civilizações antigas floresceram. Os dados revelam que as mudanças climáticas observadas na estalagmite estão alinhadas com registros na Groenlândia, sugerindo uma influência climática global.

Esse estudo é fundamental para responder à questão de por que a agricultura começou exatamente onde e quando ocorreu. A análise das amostras indica um aumento na pluviosidade há cerca de 14.560 anos, resultando em um crescimento mais rápido de vegetação na área. Entretanto, cerca de 12,7 mil anos atrás, a precipitação diminuiu, levando a um aumento nas condições áridas, como evidenciado por alterações na composição química do calcário.

As cavernas como registros históricos

A Caverna Hsārok, onde a estalagmite foi encontrada, está situada no interior do Crescente Fértil, uma região considerada o berço da agricultura. Atualmente, a pluviosidade nessa área é suficiente para sustentar a agricultura, com os afluentes do Rio Tigre nas proximidades, que foram vitais para o desenvolvimento de algumas das primeiras civilizações.

Investigadores também descobriram que a Caverna de Palegawra, localizada a 140 quilômetros da Caverna Hsārok, foi ocupada durante os períodos iniciais de aquecimento pós-glacial, mas foi abandonada quando a estalagmite indicou uma fase de seca. A reocupação da caverna de Hsārok coincidiu com o aquecimento subsequente, sugerindo que as condições climáticas desempenharam um papel crítico na mobilidade e assentamento humano.

A mobilidade em ambientes variados

Os autores do estudo argumentam que, até o início da era Holocena, os contrafortes das Montanhas Zagros criaram uma diversidade de ambientes que, embora não sustentassem grandes populações permanentemente, permitiram a exploração de recursos sazonais. Essa flexibilidade pode ter preparado os grupos humanos para a agricultura, permitindo que eles se adaptassem às novas condições climáticas mais quentes e estáveis.

A leitura das estalagmites, como a da Caverna Hsārok, oferece uma narrativa consistente sobre o clima da região. As proporções de carbono-13 e carbono-12 revelam um crescimento vegetal acelerado durante períodos quentes e úmidos, o que está em consonância com evidências de núcleos de gelo da Groenlândia.

Implicações para o conhecimento histórico

As descobertas sugerem que o período úmido registrado pela estalagmite corresponde ao interstadial Bølling-Allerød, quando a Groenlândia experimentou um aquecimento significativo. Em contraste, a subsequente fase seca se alinha com o Younger Dryas, um período de resfriamento inexplicado.

Essas análises aprofundam o entendimento sobre a origem da agricultura, mostrando como as mudanças climáticas influenciaram o desenvolvimento humano e a formação de civilizações. A pesquisa foi publicada na respeitável revista Proceedings of the National Academy of Sciences, destacando a importância das evidências climáticas na compreensão do passado humano.

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