Experimento com cogumelos shiitake demonstra potencial em eletrônica

Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio testaram cogumelos shiitake como memristores orgânicos, com resultados promissores para a eletrônica.
Fungos como alternativa sustentáveis para eletrônica
Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, em 31 de outubro de 2025, testaram o desempenho de cogumelos shiitake como memristores orgânicos, um tipo de processador de dados capaz de memorizar estados elétricos. O resultado surpreendeu: eles não apenas demonstraram efeitos de memória reproduzíveis semelhantes aos de chips semicondutores, como também poderiam ser usados como outros tipos de componentes de computação de baixo custo.
“Ser capaz de desenvolver microchips que imitam a atividade neural real significa que você não precisa de muita energia em modo de espera ou quando a máquina não está sendo usada”, disse John LaRocco, autor principal do estudo e pesquisador científico em psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Ohio. Essa inovação pode representar uma enorme vantagem computacional e econômica.
Inovações em computação fúngica
O micélio como substrato computacional já foi explorado anteriormente na eletrônica fúngica, que foca no desenvolvimento de sistemas de computação sustentáveis, sem depender de minerais de terras raras ou grandes quantidades de energia. Segundo os pesquisadores, o novo trabalho busca levar um desses sistemas memristivos aos seus limites. As descobertas do estudo, financiado pelo Instituto de Pesquisa Honda, foram publicadas na revista PLOS ONE.
Os pesquisadores cultivaram amostras de cogumelos shiitake e champignon até a maturidade, quando foram desidratadas para garantir sua viabilidade a longo prazo. Depois, os fungos foram conectados a circuitos eletrônicos especiais e submetidos a eletrocussão em diferentes voltagens e frequências. “Conectávamos fios elétricos e sondas em diferentes pontos dos cogumelos porque partes distintas deles possuem propriedades elétricas diferentes”, explicou LaRocco.
Resultados promissores
Após dois meses, a equipe descobriu que, quando usado como RAM, o memristor em forma de cogumelo era capaz de alternar entre estados elétricos a uma taxa de até 5.850 sinais por segundo, com cerca de 90% de precisão. Embora o desempenho caísse à medida que a frequência das tensões elétricas aumentava, como em um cérebro real, isso podia ser corrigido conectando mais cogumelos ao circuito.
O resultado demonstra a viabilidade e facilidade de programar e preservar cogumelos para que se comportem de maneiras inesperadas e úteis, conforme avaliação da coautora do estudo, Qudsia Tahmina. Para a computação fúngica, o resultado da pesquisa mostra como sistemas de cogumelos maiores podem ser úteis em computação de borda e exploração aeroespacial; os menores, em aprimorar o desempenho de sistemas autônomos e dispositivos vestíveis.
Futuro da pesquisa
Apesar do desempenho positivo, memristores orgânicos ainda estão em fase inicial de desenvolvimento. A equipe acredita que trabalhos futuros poderão otimizar o processo de produção, aprimorando as técnicas de cultivo e miniaturizando os dispositivos, visto que memristores fúngicos viáveis precisariam ser muito menores do que os obtidos pelos pesquisadores neste trabalho.
“Tudo o que você precisa para começar a explorar fungos e computação pode ser tão simples quanto uma pilha de compostagem e alguns componentes eletrônicos caseiros, ou tão complexo quanto uma fábrica de cultivo com modelos pré-fabricados”, concluiu LaRocco.



