Projeto busca transformar terras degradadas em pastagens nativas, promovendo a coexistência entre agricultura e natureza.

Projeto inédito visa reverter a degradação de terras e integrar a vida selvagem à agricultura.
Vida selvagem em fazendas: uma nova abordagem agrícola
No coração da Driftless Area de Wisconsin, uma revolução agrícola está em curso. A parceria entre Mad Agriculture e Whole Foods está liderando um projeto inovador, conhecido como ‘Wilding’, que visa reverter a degradação de mais de 400 hectares de terras agrícolas. Com um investimento de US$ 1 milhão, a iniciativa busca transformar a relação entre a agricultura e a vida selvagem.
O projeto não pretende criar uma reserva intocada, mas sim uma ‘paisagem produtiva’ onde a natureza e a agricultura possam coexistir. Elizabeth Candelario, diretora de estratégia da Mad Agriculture, enfatiza que “essa parceria reflete o tipo de ação ousada que o Wilding foi criado para inspirar”. O foco está em restaurar os ecossistemas locais, permitindo que a biodiversidade prospere em harmonia com a produção agrícola.
Pesquisa e resultados promissores
As bases do projeto Wilding estão firmadas em pesquisas científicas robustas. Omar de Kok-Mercado, diretor do projeto, trouxe experiência de estudos anteriores na Universidade Estadual de Iowa, onde observou que a plantação de faixas de pradaria nativa entre as plantações de milho resultou em uma redução drástica do escoamento de sedimentos e um aumento significativo na população de aves e polinizadores. Os dados indicam que a presença de habitat natural é essencial para o funcionamento saudável dos ecossistemas agrícolas.
De acordo com os estudos, é necessário que cerca de 20% a 25% de uma fazenda seja dedicado ao habitat natural para garantir a fertilidade do solo e a presença de polinizadores. Sem essa integração, as consequências incluem a diminuição da biodiversidade e a erosão do solo.
Benefícios econômicos da restauração
O modelo do Wilding não só oferece benefícios ecológicos, mas também apresenta oportunidades econômicas para os agricultores. De Kok-Mercado explica que as áreas que hoje são consideradas marginais para o cultivo, como encostas íngremes, podem ser transformadas em pastagens nativas, que exigem pouca manutenção após estabelecidas. Isso permite que os agricultores explorem novas fontes de renda, como arrendamentos para pastoreio e caça.
Além disso, a proposta oferece uma oportunidade para jovens agricultores que, sem capital para adquirir terras, podem gerenciar essas áreas restauradas e construir seus próprios negócios. A visão de De Kok-Mercado se estende por 50 anos, com a criação de uma ‘Wild Grid’, uma rede de corredores de vida selvagem que conectaria milhões de hectares ao longo do país.
Sustentabilidade e futuro da agricultura
Para as empresas envolvidas, como a Whole Foods, o projeto representa uma aposta no futuro sustentável da cadeia de suprimentos. Caitlin Leibert, vice-presidente de sustentabilidade da empresa, afirma: “A perda de biodiversidade é uma das maiores ameaças à agricultura. Sem natureza, não há agricultura, nem alimento”. Essa iniciativa em Wisconsin é um passo importante para verificar se a agricultura pode deixar de lutar contra a natureza e, em vez disso, aprender a lucrar com ela.
A expectativa é que o projeto Wilding sirva de modelo e inspiração para futuras práticas agrícolas que integrem a sustentabilidade como pilar central, promovendo não apenas a produção de alimentos, mas também a preservação da biodiversidade. Com a combinação de ciência e práticas inovadoras, a agricultura pode se transformar em um aliado da natureza, criando um novo paradigma para o setor.


