O advogado Nelson Wilians, sob investigação da Polícia Federal (PF) por suposto envolvimento em um esquema de desvio de recursos do INSS, compareceu à CPMI do INSS nesta quinta-feira (18), mas se recusou a prestar o compromisso de dizer a verdade em seu depoimento. Wilians é suspeito de participar de transações ilícitas com um empresário apontado como figura central no esquema de descontos irregulares a aposentados.
Amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), Wilians estava desobrigado de prestar o compromisso de falar a verdade e de permanecer em silêncio durante a CPMI. Mesmo assim, o presidente da comissão, Carlos Viana (Podemos-MG), questionou se o advogado gostaria de prestar o compromisso voluntariamente, o que foi negado.
Durante sua apresentação, o advogado expressou sua repulsa aos crimes sob apuração. “Este que aqui está, assim como todos, abomina o que aconteceu. É abominação. Lesar um aposentado já é, por si só, um crime gravíssimo”, declarou Wilians.
Em seguida, o advogado informou que usaria seu direito de permanecer em silêncio, pedindo que fosse respeitado. A partir de então, ao ser questionado, passou a responder: “Reafirmo que nada tenho a ver com o objeto desta CPMI”.
Wilians negou conhecer Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, mas admitiu ter uma relação de amizade com Maurício Camisotti, que foi seu cliente. Relatórios de inteligência financeira apontam que Nelson Wilians movimentou R$ 4,3 bilhões em operações consideradas suspeitas entre 2019 e 2023.
A Polícia Federal suspeita que a relação entre Wilians e Camisotti ultrapassa a mera relação profissional entre advogado e cliente. Declarações públicas do advogado após a divulgação de informações sobre transações financeiras entre eles levantaram suspeitas. Segundo a PF, “as justificativas apresentadas variam entre alegadas operações imobiliárias – inexistentes nos bancos de dados oficiais – e supostos honorários adiantados, os quais não foram identificados nas contas pessoais ou empresariais de ambos”.
Ainda de acordo com a PF, não há lastro que justifique as transferências feitas por Wilians a Camisotti. O advogado alegou ter feito pagamentos ao empresário para a compra de uma casa, mas a PF afirma que não há registro dessa transação em cartório.
Camisotti e o “Careca do INSS” são apontados como articuladores de associações usadas para descontar parte dos pagamentos de aposentados sem o consentimento deles. Entre elas, a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), a terceira maior beneficiária dos descontos irregulares da fraude do INSS. Suspeita-se que a entidade, que movimentou R$ 231,3 milhões em descontos, seja controlada por “laranjas” ligados a Mauricio Camisotti.
“A relação entre Nelson Wilians e Maurício Camisotti revela-se além dos limites de uma mera vinculação profissional entre cliente e advogado, uma vez que Nelson Wilians figura como possível beneficiário dos descontos associativos da Ambec, demonstrava interesse em obter informações acerca da investigação em curso e permanece efetuando repasses financeiros em favor de Maurício. Nesse cenário, apresenta-se como elo de intermediação na circulação de valores provenientes de atividades ilícitas”, conclui a PF. Estima-se que o esquema tenha movimentado mais de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024.
Durante a CPMI, o relator deputado Alfredo Gaspar (União-AL), questionou se as doações de campanha feitas por Wilians tinham como objetivo influenciar políticos. Wilians negou ter almejado favores em troca do financiamento de campanha, mas adotou uma postura impaciente, reafirmando que não tem participação nos fatos investigados pela comissão.
Fonte: http://jovempan.com.br