Aplicativo de delivery enfrenta queixas de entregadores e protestos em Santos

A estreia do aplicativo de delivery Keeta no Brasil foi marcada por queixas e uma investigação policial.
Keeta estreia no Brasil: desafios e polêmicas
A estreia da Keeta no Brasil, em Santos e São Vicente, tem sido marcada por queixas e protestos, além de uma investigação policial por suposta espionagem industrial. O serviço, controlado pela gigante chinesa Meituan, iniciou suas operações com promessas de investimento de R$ 5,6 bilhões, desafiando o domínio do iFood, que possui mais de 80% do mercado de delivery.
Desde a sua chegada, a Keeta enfrenta sérias reclamações de entregadores sobre pagamentos abaixo do esperado e a falta de transparência em sua operação. Os trabalhadores relataram que, durante a operação-piloto, até clientes insatisfeitos poderiam solicitar a suspensão de um entregador sem aviso prévio, o que gerou um grande descontentamento.
Protestos de entregadores e modelo de terceirização
Os entregadores protestaram contra o modelo de Operadores Logísticos (OLs) que a Keeta adotou. Nesse sistema, os motoboys e ciclistas são contratados por terceirizadas, que definem turnos, áreas de cobertura e remunerações. O Ministério Público do Trabalho já considera essa prática irregular, pois submete os entregadores a metas e horários típicos de um vínculo empregatício, mas sem os direitos garantidos pela CLT.
A Keeta, por sua vez, afirma que 60% dos entregadores atuam de forma independente, não vinculados a operadores logísticos, e que as taxas de pagamento seguem o padrão do mercado, com R$ 7,50 para motociclistas e R$ 7 para ciclistas. A empresa também anunciou um bônus de R$ 5 por entrega durante o período de lançamento, além de afirmar que está avaliando possíveis ajustes no modelo de remuneração.
Questões legais e concorrência
A chegada da Keeta ao Brasil também desencadeou uma batalha judicial com a rival 99Food, que retornou ao mercado em 2025. A 99Food é acusada de concorrência desleal por ter firmado acordos de exclusividade com restaurantes, o que, segundo a Keeta, impede que esses estabelecimentos firmem contratos com ela. Uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo considerou essas cláusulas ilícitas, determinando sua remoção dos contratos em vigor.
Investigação por espionagem industrial
Além das polêmicas com os entregadores e a concorrência, a estreia da Keeta está envolvida em uma investigação policial. A Polícia Civil de São Paulo apura um caso de suposta espionagem corporativa, onde ao menos oito indivíduos são suspeitos de se passarem por funcionários da Keeta para acessar sistemas internos de restaurantes e coletar dados confidenciais. A empresa já declarou que está cooperando com as investigações e nega qualquer envolvimento com as atividades ilícitas.
A situação da Keeta no Brasil é um reflexo das complexidades do setor de delivery, onde o desafio de equilibrar um modelo de negócios viável com os direitos dos trabalhadores e as exigências legais se torna cada vez mais evidente. O desenrolar dessa história promete impactar não apenas a Keeta, mas todo o mercado de entrega no Brasil.



