Menopausa Precoce Pós-Câncer: Um Tabu Silencia o Luto de Milhares de Mulheres

A menopausa, tradicionalmente associada aos 50 anos, marca uma fase de transição na vida da mulher, frequentemente acompanhada de estabilidade pessoal e profissional. Contudo, para aquelas que enfrentaram o câncer, essa jornada pode ser abruptamente antecipada, desencadeando desafios físicos e emocionais intensificados.

O tratamento oncológico, embora vital para combater a doença, pode impactar severamente a função ovariana, precipitando a menopausa em mulheres jovens, muitas vezes na faixa dos 30 e 40 anos. Esse efeito colateral, no entanto, permanece um tema pouco explorado, deixando um vácuo de informações e apoio para as pacientes.

A oncologista Dra. Larissa Müller Gomes (CRM/SP 180158 | RQE 78497) destaca: “Fala-se muito sobre vencer o câncer, com razão, mas quase nada sobre o que acontece depois: as mudanças no corpo, na fertilidade, nos hormônios, na sexualidade e na autoestima.” Esse silêncio contribui para um “luto” invisível, vivido em solidão por inúmeras mulheres.

Os tratamentos como quimioterapia e radioterapia, embora direcionados às células cancerosas, podem danificar tecidos saudáveis, incluindo os ovários e o útero. Essa agressão pode interromper a produção de hormônios essenciais como estrogênio e progesterona, levando à menopausa precoce e impactando a fertilidade.

Além dos impactos físicos, a menopausa precoce induzida pelo tratamento oncológico acarreta profundas consequências emocionais. A tristeza pela perda da fertilidade, o medo de perder a feminilidade e a ansiedade em relação ao futuro são sentimentos comuns, intensificados pela falta de diálogo e apoio adequados.

Os sintomas físicos incluem ondas de calor, secura vaginal, insônia e diminuição da libido, enquanto os desafios emocionais abrangem tristeza, medo e isolamento. A sensação de “envelhecer antes do tempo” é frequentemente relatada, especialmente por mulheres que ainda não tiveram filhos e desejam ser mães.

Diante desse cenário, a importância de uma abordagem multidisciplinar se torna evidente. Oncologistas, ginecologistas, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas devem trabalhar em conjunto para oferecer um cuidado abrangente, que vá além da remissão da doença e contemple a qualidade de vida e o bem-estar da paciente.

A terapia de reposição hormonal (TRH) pode ser uma opção para aliviar os sintomas da menopausa precoce, mas seu uso deve ser cuidadosamente avaliado, especialmente em mulheres com histórico de câncer hormônio-dependente. Alternativas seguras, como o estrogênio vaginal em baixas doses, podem ser consideradas em casos selecionados.

A medicina integrativa, que combina a medicina convencional com práticas complementares como acupuntura, meditação e exercícios físicos adaptados, oferece um caminho promissor para o cuidado holístico da mulher após o câncer. Essas práticas auxiliam no controle da ansiedade, na melhora do humor e na reconexão com o próprio corpo.

A menopausa provocada pelo câncer é uma ruptura que afeta o corpo, as emoções e a identidade da mulher. Romper o silêncio, abrir espaço para o diálogo e garantir um acolhimento empático são passos cruciais para oferecer dignidade e assegurar que cada mulher saiba que não está sozinha nessa jornada.

Fonte: http://jovempan.com.br

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