A paixão, frequentemente idealizada, esconde nuances que a neurociência começa a desvendar. Um aumento de dopamina, associado à expectativa e recompensa, acende áreas cerebrais adormecidas, criando uma sensação de vitalidade e euforia. Mas será que estamos realmente apaixonados pelo outro, ou apenas pela versão de nós mesmos que ele desperta?
É comum confundir essa projeção com a paixão genuína. Aquele brilho que atribuímos ao outro pode ser, na verdade, um autoencantamento, um fascínio pelo próprio reflexo emocional. “Não nos apaixonamos pelo outro. Nos apaixonamos pela versão que surge quando alguém acende o que ficou escondido”, explica o artigo, revelando a tênue linha entre a paixão real e a projetada.
A verdadeira paixão, por sua vez, nasce da curiosidade e do interesse genuíno pelo outro, da vontade de conhecer além da superfície. Já a paixão projetada, alimenta-se da curiosidade sobre quem nos tornamos no encontro, buscando o próprio reflexo em vez da essência alheia. Uma acalma e aproxima, a outra idealiza e acelera.
Estudos de Harvard e Virgínia revelam que a incerteza intensifica o envolvimento afetivo, pois o cérebro valoriza o imprevisível. Situações difíceis ou proibidas podem criar uma falsa sensação de profundidade emocional, onde a intensidade se sobrepõe à realidade. A ativação química, nesse caso, não garante um vínculo real e duradouro.
Em busca de porto seguro, muitos almejam a tranquilidade em um parceiro, uma figura estável que sustente o cotidiano. Contudo, a compatibilidade absoluta é uma ilusão. “Após algum tempo vamos nos perder do outro para nos encontrarmos novamente”, aponta o artigo, ressaltando a importância de aceitar as diferenças e evoluir em sincronia.
Em última análise, o artigo questiona se realmente precisamos de alguém para espelhar partes adormecidas de nós mesmos. A série da Netflix, *Ninguém Quer*, ilustra a complexidade de relacionamentos duradouros, mostrando como casais diferentes podem construir e reconstruir a compatibilidade ao longo do tempo, através da flexibilidade e da disposição para enxergar o outro.
A UCLA revela que ser visto e reconhecido ativa áreas cerebrais ligadas à recompensa social e ao pertencimento. No entanto, nem sempre ser lido significa ser amado, e a ânsia por ser percebido pode distorcer a realidade e transformar gestos em falsas promessas de reciprocidade. O verdadeiro encantamento reside no que o outro desperta em nós, e a coragem de reconhecer que essa versão continua disponível, mesmo quando o outro se vai.
Fonte: http://jovempan.com.br
