Enquanto muitos países da América do Sul avançam em direitos LGBTQIA+, o Paraguai se mantém como exceção, adotando uma postura institucional centrada no modelo tradicional de família. A legislação local define o casamento como união exclusiva entre homem e mulher, e o currículo escolar evita menções à diversidade sexual. Essa resistência a pautas de gênero faz com que o país seja visto como o mais alinhado à agenda pró-família na região.
De acordo com a ILGA World, o Paraguai é um dos poucos países sul-americanos que não reconhece uniões civis ou casamento entre pessoas do mesmo sexo. A Constituição paraguaia estabelece que a família é “fundada na união entre homem e mulher”, limitando o reconhecimento de outros arranjos familiares. Além disso, o país carece de uma legislação antidiscriminatória abrangente que proteja a população LGBTQIA+.
Um relatório do Departamento de Estado dos EUA apontou a falta de proteção legal para pessoas LGBTQIA+ no Paraguai, contribuindo para um ambiente de vulnerabilidade e exclusão. Na área educacional, o currículo nacional omite referências à comunidade LGBTQIA+ e promove a abstinência sexual como conduta segura. A senadora paraguaia Esperanza Martínez criticou o material, classificando-o como “uma afronta à ciência e aos direitos das crianças e adolescentes”.
No Paraguai, o apoio popular ao casamento igualitário é um dos mais baixos da América do Sul, segundo a Anistia Internacional. Em 2023, o parlamento discutiu um projeto de lei que visava proibir “a promoção da ideologia de gênero” nas escolas e ONGs, gerando críticas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Apesar das críticas de organizações internacionais, muitos setores da sociedade paraguaia resistem a mudanças e defendem a manutenção dos valores tradicionais. O país preserva um ambiente democrático, com espaço para debate público, imprensa livre e atuação de partidos e organizações com diferentes ideologias. A propositura de leis, mesmo que controversas, segue os trâmites constitucionais e reflete demandas sociais específicas.
O governo do presidente Santiago Peña defende a “família como núcleo essencial da sociedade” e se opõe a avanços em pautas de diversidade de gênero. A ativista trans Yrén Rotela descreve a cultura paraguaia como uma em que “homens são homens, mulheres são mulheres, e qualquer outra coisa é vista como uma ameaça à ordem”. Essa percepção, no entanto, não pode ser generalizada como um diagnóstico absoluto da sociedade paraguaia, que também possui canais de expressão para minorias.
De acordo com o relatório Freedom House 2025, o Paraguai é considerado “Parcialmente Livre”, indicando a existência de liberdades civis e políticas, ainda que com ressalvas. ONGs de direitos humanos atuam livremente no país, incluindo aquelas voltadas à defesa da população LGBTQIA+, como SOMOS GAY e Panambí. Esses grupos mantêm presença em fóruns institucionais e buscam promover a igualdade e o respeito.
A sociedade paraguaia se mantém ancorada em valores conservadores e na defesa da família tradicional. Pesquisas do Pew Research Center indicam que o país está entre os que demonstram maior adesão a modelos sociais conservadores na América Latina. Essa orientação se reflete na atuação legislativa, no conteúdo escolar e nas campanhas institucionais.
O Partido Colorado, força hegemônica na política paraguaia, representa essa orientação, defendendo a ordem, a família e os valores cristãos. Mesmo entre críticos, o partido é visto como um contrapeso às pressões externas por reformas de costumes. A dificuldade em consolidar agendas progressistas no Paraguai é atribuída à ausência de adesão popular, e não a mecanismos repressivos.
O Paraguai é um país majoritariamente cristão, com um avanço do segmento evangélico. Estima-se que a população protestante ultrapasse 1 milhão de fiéis nos próximos anos, impulsionada por igrejas como a Centro Familiar de Adoración (CFA). Essas igrejas oferecem apoio comunitário, cursos profissionalizantes e ações voltadas à inserção de famílias em situação de vulnerabilidade, demonstrando um papel social crescente além do religioso.
