Rússia busca diversificar sua economia com terras raras

Estratégia visa reduzir dependência da China no mercado global

Rússia busca diversificar sua economia com terras raras
Vladimir Putin e chip da Rússia. Foto: Logotipo Olhar Digital

A Rússia quer entrar na corrida global por terras raras para reduzir a dependência da China.

Rússia e a corrida global por terras raras

A Rússia quer entrar de vez na corrida global pelas terras raras, um grupo de metais essenciais para a indústria de alta tecnologia e para a transição energética. O presidente Vladimir Putin ordenou que o governo finalize, até dezembro, um plano nacional para explorar esses minerais estratégicos. Este movimento busca reduzir a dependência russa da China, que domina quase todo o mercado mundial, e garantir espaço numa das cadeias mais lucrativas do século 21.

A decisão vem em um momento em que países disputam o controle das reservas e do refino desses elementos, utilizados em ímãs, semicondutores, baterias e turbinas eólicas. A China lidera com folga, enquanto os Estados Unidos tentam reagir, e o Brasil surge como um dos principais detentores de reservas, embora ainda esteja engatinhando na produção.

O presidente Putin determinou que autoridades concluam até 1º de dezembro um plano de longo prazo para o desenvolvimento da extração e do refino de terras raras, segundo informações da CNBC. Apesar do potencial, a Rússia ainda é um participante tímido nesse mercado, respondendo por apenas 0,64% da produção global, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos.

Esses números ajudam a explicar a pressa de Moscou. Enquanto a China concentra quase 70% da produção mundial, a Rússia ficou para trás em infraestrutura, tecnologia e parcerias internacionais. O governo russo tenta agora explorar suas jazidas e atrair investimentos estrangeiros, mas enfrenta barreiras impostas por sanções econômicas e pela guerra na Ucrânia, que limitam o acesso a mercados ocidentais.

Analistas afirmam que o país vê nas terras raras uma oportunidade de reposicionar sua economia, que atualmente depende do petróleo e do gás. Para o consultor Willis Thomas, do CRU Group, “os russos estão correndo por uma oportunidade, enquanto os americanos correm por necessidade”.

Os desafios da mineração e o domínio chinês

O desafio, porém, é grande. Minerar é a parte fácil; o que dá vantagem à China é o domínio sobre as etapas mais complexas, como o refino e a separação química dos elementos. As terras raras voltaram ao centro da disputa entre China e Estados Unidos recentemente, quando Pequim anunciou novas restrições à exportação desses minerais. Essa medida, apresentada como forma de “proteger a segurança nacional”, é vista como uma resposta às sanções impostas por Washington contra a indústria chinesa de semicondutores.

Com o controle da cadeia produtiva, a China passou a ter uma vantagem estratégica em relação aos Estados Unidos, que dependem desses insumos para diversos setores. Segundo o cientista político Henry Farrell, da Universidade Johns Hopkins, a China “aprendeu a jogar o mesmo jogo dos EUA — e, em certos pontos, joga melhor”. Já o professor Yeling Tan, de Oxford, alerta que o bloqueio pode sair caro para Pequim, ao abalá-la como fornecedora confiável. Mesmo assim, a decisão reforça a mensagem de que as terras raras se tornaram um instrumento de pressão econômica em meio à guerra dos chips.

A importância das terras raras e o papel do Brasil

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos metálicos, composto pelos lantanídeos e pelos metais de transição escândio e ítrio. Apesar do nome, eles não são exatamente raros; ocorrem em diversas regiões do planeta, mas em baixas concentrações e com extração complexa. Por terem propriedades como alta condutividade, magnetismo e luminescência, são essenciais para produtos de tecnologia de ponta, que vão desde ímãs e semicondutores até baterias de carros elétricos, turbinas e equipamentos médicos.

O Brasil tem um papel importante nesse cenário. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o país possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, com 21 milhões de toneladas, atrás apenas da China. A maior parte está concentrada em Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe. Entretanto, a produção nacional é mínima — apenas 20 toneladas em 2024, menos de 1% do total global. O principal entrave é tecnológico: o país ainda depende de técnicas e estruturas estrangeiras para o refino e a separação química dos elementos.

Nos últimos meses, porém, começaram a surgir sinais de mudança. Em Aparecida de Goiânia (GO), foi inaugurada a primeira fábrica brasileira voltada ao processamento de terras raras para ímãs, usados em motores elétricos e turbinas eólicas. A planta utiliza argila iônica extraída no interior do estado e alcança pureza superior a 95%, segundo a empresa responsável. O projeto é visto como um passo inicial para inserir o Brasil num mercado estratégico, que combina transição energética, inovação industrial e soberania tecnológica.

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