A pouco mais de um ano das eleições de 2026, o cenário econômico brasileiro volta a preocupar. A deterioração simultânea das contas públicas e externas reacende o temor dos chamados “déficits gêmeos”, um fantasma que assombrou o país no passado.
Especialistas apontam semelhanças preocupantes com a conjuntura observada no segundo mandato de Dilma Rousseff, período marcado por uma grave crise fiscal que culminou no impeachment da então presidente. A comparação serve de alerta para os desafios que o governo Lula enfrentará nos próximos anos.
Os “déficits gêmeos” se manifestam quando um país registra, simultaneamente, um déficit nominal elevado (nas contas fiscais) e um déficit em conta corrente (nas transações com o exterior). Ambos os indicadores apresentaram piora significativa durante o atual governo, impulsionados pelo aumento dos gastos públicos e por um aquecimento econômico questionado por diversos analistas.
No campo fiscal, os dados revelam uma escalada das despesas com juros da dívida pública, que se aproximaram de R$ 1 trilhão nos 12 meses encerrados em julho. A taxa Selic elevada, fixada em 15%, onera o custo da rolagem da dívida, resultando em um déficit nominal de 7,12% do PIB no governo central.
A dívida pública bruta também segue em trajetória ascendente, atingindo 77,5% do PIB em julho, um aumento de seis pontos percentuais desde o início do governo. “Poucos países aumentaram tanto seu endividamento em tão pouco tempo”, alertam analistas, ressaltando a urgência de medidas para conter essa escalada.
No front externo, o déficit em conta corrente saltou de 1,4% para 3,5% do PIB em apenas um ano. A piora é atribuída a uma balança comercial menos favorável e ao aumento das saídas líquidas de serviços, lucros e dividendos. O aquecimento da economia interna impulsionou as importações, que superaram os ganhos com as exportações.